28.7.12

de mês em mês ela tossia, tossia e tossia. garganta seca, uma bola de pêlos. não era gato, não entendia. tossia. doía. doía dentro. dentro dela algo doía, pedia, tossia, escarrava uma bola de pêlos. sofria. sozinha escondida na sua caverna, e o sol, outras vezes tão aceso na peito, apagado, noturno, nublado. chovia. tossia. todo dia, uma bola de pêlo. não era gato, não entendia. seguia, em círculo talvez, sorria, sem saber se queria. sonhou, um dia, um grito inflamado, no meio da sala, engasgos e pratos caídos no chão, estalos abafados, uma multidão. acordou tossindo. dentro da noite, sentiu. arranhando a garganta, unhas. dentes de dentro, uma parição, meu deus, uma nascença, uma parto, uma vida nova sem pedir licença abrindo, saindo. um leão. não era mais menina, não. não era mais menina de vidro, era uma parição de vida, era agora a coragem, era agora um leão.

Um comentário:

Daniel Oliveira disse...

Texto muito bom, fiquei curioso e ancioso até o final... muito criativo. Me faça uma visita tmb em vendedordebaloes.blogspot.com desde ja muito grato