26.2.09

Trocando cicatrizes

Eram suaves caricias que iam direto ao encontro delas, escondidas, à espreita, cheias de historias e contos a serem descobertos, cada vez que se tocava numa, ela era aberta, remexida, trazida pro tempo do agora, revolvida nos seus maleficios e curada novamente pela força do renascimento, que só o instante. Passou. Tem o poder de transformar.

Os pedaços da historia da alma e do corpo, reescritas pelo ar e respiração do momento:

De onde vem essa tua cicatriz?

Renascimento que esse instante de espera da resposta doa: A cura.

Até que enfim as máscaras que embelezam e trazem um certo ar de nobreza e romantismo às feridas estejam caídas ao chão e as unhas sedentas de matéria e chão possam enfim cravar cada veia do outro corpo, sangue que jorra, o real movimento da vida, além das palavras e de qualquer razão, molda rugas, sorrisos, deixa marcas reais, que podem ser maquiadas, mascaradas, mas nunca deixarão de carregar em si mesmas o peso e o poder da vida.


"Um corpo só tem gravidade em relação a outro corpo."

14.2.09

Era uma vez um passarinho roxo que nasceu no meio dos passarinhos azuis e com eles viveu até perceber que não se encaixava muito bem entre os passarinhos azuis porque era, afinal, roxo, e além da cor tudo neles era diferente a começar pela temperatura do coração o que modificava todo o funcionamento de suas vidas e essa disritmia começou a se tornar um pouco sufocante para o passarinho roxo que um dia decidiu voar pra bem longe sem rancor dos passarinhos azuis que só tinham um coração diferente do seu então voou voou voou chorou no caminho frio até que avistou enfim um lugar onde os passarinhos tinham muitas cores eram muitos passarinhos coloridos que as vezes pintavam seus pelos da cor que desejassem então o passarinho roxo pousou na comunidade colorida e sentiu uma coisa diferente pois todos ali tinham corações diferentes uns dos outros mas as batidas não atrapalhavam seu funcionamento que modificou-se com o tempo fazendo com que as batidas formassem uma grande batucada ritmada e lá o passarinho viveu feliz no seu quase sempre de cada segundo até que um dia uma passarinhada azul chegou no lugar e vendo o passarinho roxo naquela situação deplorável resolveu salvá-lo daquilo que lhe trazia paz então os passarinhos azuis colocaram o passarinho roxo numa grade para o seu bem e levaram-no de volta pra casa.

4.2.09

Assim é que é por aqui.
A rua com as árvores cortadas, uma paisagem que muda muito devagar.
A buzina do trem muito longe, atrás do mato longe.
As meninas ja crescidas esticando os cabelos e os olhos pra cima de mim.
Rindo e falando baixo umas pras outras.
Sentadas na calçada, crescendo.
Meninas sem cabeça, cheias de tato e coração úmidos.
Meninas de neblina.
Mudando junto com a paisagem.