O extremo. Momento extremo em que o corpo arrepia e pede um pouco mais de vida. Situação limite. Loucura? Fluxo desgovernado do pensamento, sem pretensões estéticas de primeiro plano.
25.4.07
Eu peguei o copo antes que ele caísse e não sei por que nesse momento, repito, foi nesse exato momento, só nesse momento que pensei:
E se eu tivesse ido?
Depois de tanto tempo sem pensar em qualquer possibilidade, foi que isso me passou pela cabeça!
E se eu tivesse ido?
Foi a primeira possibilidade real, como vou dizer, real, eu poderia mesmo ter te encontrado...
Depois de tanto tempo.
E foi aí, que, depois de tanto tempo isso me passou pela cabeça:
O que teria acontecido se eu tivesse te encontrado?
O mesmo de sempre?
Mas aí, nesse momento também lembrei: Há quanto tempo eu não te via?
O chão, parece que tinha fugido do copo, e parece que tinha fugido toda a minha razão porque era isso...
Eu podia ter te visto.
Cara a cara, olho com olho, sem ter como fugir.
No meio daquelas paredes brancas. Essas paredes brancas que deixam tudo meio claro demais, meio insuportavelmente claro.
O que teria acontecido?
Antes.
Eu quase fui. E você estava lá.
Sim, o mesmo de sempre. O mesmo de sempre. Duas ou três palavras minhas, duas ou três palavras suas e a gente voltava sem olhar pra trás, sem pagar a conta, sem pratos limpos, sem nada.
Como é que eu não pensei nisso antes?
Como é que só depois de tanto tempo? É que eu tava com um medo, um pavor de te encontrar pela rua, pela praça, pelo banco, mas pela primeira vez depois de tanto tempo eu não sentia mais medo. Medo só de ter ido, eu e você e umas paredes brancas, e uns conhecidos que não iam deixar a gente se ignorar, ia ser aquela coisa -vocês não vão se cumprimentar?
E aquele copo na minha mão, eu quase senti seu rosto me beijando, que merda!
Se eu tivesse ido, seríamos obrigados a nos cumprimentar com beijinho no rosto e a dizer coisas do tipo como vai você.
Já sei!
Você não ia agüentar e ia dizer duas ou três ironias que iam mudar tudo pra sempre. Eu ia fingir que não tinha entendido, mas não ia dormir naquela noite por causa das três ironias. E eu ia voltar sem presente.
Mas eu não fui.
Agora eu precisava de uns panos e de tirar os cacos e de limpar as mãos sujas de sangue.
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