21.1.07

A língua dos anjos

Narciso já estava pronto e ainda nem eram sete horas. Olhou o relógio e parou por um instante. Sentou-se na cama branca, olhou tudo em volta. Lá fora a noite se esvaia em fumaça, um resto de noite e algumas pessoas já preparando o novo domingo, semi-deuses que iriam dizer-lhe o que vestir, o que comer, o que fazer.
Os semi-deuses acordam mais cedo no domingo- sussurrou Narciso.
No entanto este não era um deles, mas ali estava a coçar as mãos e repentear o cabelo pra ver um jeito que, se batesse o vento, não desarrumasse muito.
O que será o café da manhã?
Narciso pensava no café, mas não queria comer.
Outra manhã de domingo.
Os ruídos do dia começavam a aparecer, as camas dos quartos ao lado, rodas percorrendo o corredor devagar, “bons dias” piedosos e sutis.
Então uns passos rápidos e decididos foram se aproximando e Narciso ficou imóvel.
Ela entrou, vestida de branco, Narciso sabia que era o grande dia, mas preferiu ficar quieto, como de costume.
Rosa sorriu enquanto preparava a injeção.
Narciso sorriu para Rosa enquanto ela preparava a injeção.
Narciso falou à Rosa de como ela estava linda na noite passada, de como foi difícil matar os dragões que a queriam comer, de como ela ficou triste quando ele se feriu. Agradeceu a injeção, certo de que esta o curaria do mal daquela ferida.
Rosa agradeceu, ressaltando que tinha de ir.
Narciso sentiu o corpo adormecendo, apagaram-se os ruídos, em seu coração já era noite outra vez. A porta fechou devagarinho, e a saia de rosa quase que ficou presa...

2 comentários:

Cristiano Gouveia disse...

E se, ao acordarmos, descobri-mo-nos todos Narcisos?

Seria bacana ver a saia de Rosa presa na porta do quarto...divertimentos últimos...

Narrador disse...

Vc escreve bem!
legal seu blog.