5.5.08

My funny valentine


O vento bateu em seu rosto.
Gelado.
Todos os anos, todos os outonos, todos os dias azuis e gelados, ela pensara agora, estavam deixando-a por dentro, azul e gelada também.
Cada vez que chegava o dia azul e gelado e o vento batia cortando, vinha aquele monte de sentimentos antigos, rastros de pessoas, perfumes, flores, cores, luzes que só esse dia tinha. Pessoas...que ela amaria todas, ela amaria todo mundo, todos os futuros e passados se assim fosse permitido. Mas não era. Os sentimentos vinham como que em bolhas, como se ela pudesse vê-los. Lembrar-se deles. E não mais sentí-los. Nunca mais sentí-los.
A sensação de estar desperdiçando algo o vento sempre devolvia.
Olhar o céu azul e não.. e não... e nunca. Nunca chegar nem perto.
Porque há de existir algo nos livros. nos filmes. nas peças de teatro. nas músicas. algo que não está. Tem sempre outra coisa. Que está mais atrás, mais embaixo, mais por dentro. Tem sempre algo complicando menos.
Como aquelas lembranças sussurrando apaixonadamente sobre qualquer coisa. Aquela voz falando bem baixo, e as mãos tentando encontrar algo pra fazer.
Ela nunca mais conhecera alguém que falasse bem baixo, como se contasse um segredo.
Pequenos segredos.
Que ela esquecera.

5 comentários:

TATO disse...

Stella
stella!

Belo texto, palavras esparsas que juntas resultam num efeito devastador! Nem parece que sou eu falando aqui!(risos) talvez com umas reticencias...
...
...
...
Gostei muito, muito mesmo! Da foto tbém!

bj.

Anônimo disse...

Um sonho, de um lugar sereno, apesar de luz opaca, que me fez verter lágrimas à mera menção da memória.
Um abraço, quente e gostoso, que mais parecia o contato suave com algum sentimento há tempos esquecido.
Um sussurro, tão doce e moderado que mal pude entender o que dizia.
Um passo, de passo em passo, difícil e complicado quando a quarto pés, que revelaria o verdadeiro trunfo dos que se gostam.
A boca, tão delineada e atraente que em vão tentei resistir.
A completude, de coração em coração, não sabendo se o alheio se enchia, mas sabendo que o meu certamente se sentia mais próximo de algum deus pagão.
O beijo, morno, terno e demorado, como que sendo necessário sentir aquilo por mais tempo, como que não querendo esquecer daquilo, como que lembrando de um calor já não mais sentido, já não mais visto.
Apertos, abraços, mãos trocadas nos casacos, uma grande sensação de alegria e ao mesmo tempo serenidade, olhos nos olhos e quando vejo...
Um sonho, somente um sonho, é hora de despertar e sair de sua coberta que por um momento pareceu tão viva e reconfortante e que dormindo pensei que fosse (...)

Anônimo disse...

"Quem Me Vê Sorrindo"
Composição: Cartola e Carlos Cachaça

Quem me vê sorrindo pensa que estou alegre
O meu sorriso é por consolação
Porque sei conter para ninguém ver
O pranto do meu coração

O que eu sofri por esse amor, talvez
Não compreendeste e se eu disser não crês
Depois de derramado, ainda soluçando
Tornei-me alegre, estou cantando

Quem me vê sorrindo...

Compreendi o erro de toda humanidade
Uns choram por prazer e outros com saudade
Jurei e a minha jura jamais eu quebrarei
Todo pranto esconderei

Quem me vê sorrindo...

Unknown disse...

lindo..
e esse vento me é familiar. também os sentimentos...

Anônimo disse...

Será que você pode confinar a amplitude da matéria sentimental em esquemas estruturais classificatórios de sentimentos?

Será que você é o Novo Aeon tão anunciado por místicos pagãos?

Seria você o Foulcalt da vida intima e profana além muros acadêmicos?

Seria você o Niestzche da dialética Hegeliana, o niilismo escancarado que só sabe negar o sentido da vida? (e afirmar as coisas da tradição - tanto familiar quanto política?)

Eu sinto medo de você, manto escuro da aparência, que todos amam, mas ninguém entende, porque de fato não há nada a entender, minha cara bolha de ar.

Desculpe-me se meus olhos cansados já não aceitam mais isso. Pura forma e aparência, sem alma.

Rainha do parnaso, mataria você 7 vezes se 7 vidas tivesse, se não fosse somente a pura sombra da minha insegurança.

Boa sorte a você e a vitória plena aos meus pares.
Adeus.

PS: E não te esqueças que o mundo é formado por contradições, que nos dias mais chuvosos e frios têm a incrível capacidade de formar algo sintético e belo: o arco-íris.