3.12.07

Ele- Não te irrita e assusta?
Ela -O que?
Ele -Pessoas. O tempo todo, em todos os lugares.
Ela -Não
Ele -E ficar só? Aquele silêncio...
Ela -Um pouco.
Ele -Os dois me assustam profundamente. Quando estou só, quero pessoas. Na multidão, tudo que quero é o silêncio. Desculpa, se quiser eu paro de falar...
(silêncio)
Ele - Não fica calada, tem me doído um pouco não saber exatamente o que o outro pensa e me dói ainda mais saber que nunca vou ser o outro, serei sempre eu mesmo a medida pras outras coisas. Essa falta de lucidez me mata...
(silêncio)
Ele -Fala qualquer coisa.
Ela -Calma, to pensando.
(tempo)
...
Ela -O que foi que aconteceu?
Ele -É o que venho tentando descobrir.
Ela -Mesmo?
Ele -Na verdade às vezes, porque quase nunca fico só e quando fico tenho medo de pensar.
Ela -Até de pensar?
Ele -É. Porque parece que toda vez que parei pra pensar antes só piorou tudo.
Ela -Sei...
Ele –Na verdade... faz tempo que quero te pedir uma coisa.
Ela -Pede.
Ele -Devolve minha ternura? Aquela que eu sei que tinha, você escondeu!Eu quase te liguei num dia desses, tinha me dado assim uma grande vontade de te dizer qualquer coisa, deve ser coisa de sábado à noite, eu ia te contar uma coisa que descobri sobre você, e tenho certeza que você não sabe. Sabe... Qualquer coisa...

Ela -Não posso devolver.
Ele -Devolve sim! Devolve e eu te conto o que ia te contar se tivesse te ligado, se eu não (interrompe) De novo....
Ela -Não posso te devolver isso.
Ele -Por que?
Ela -Porque eu não guardei. Como você deve ter percebido, não tenho carregado comigo
Ele -Mas você arrancou de mim. Vai dizer que não guardou?

Ela -Não arranquei não. Foi você que me deu. Você jogou fora. Disse que não ia mais precisar. Disse que estava querendo algo menos assim.
Ele -Eu fiz isso?
Ela -Fez
Ele -Mas eu perdi tanta coisa com isso.
Ela –Perdeu.
Ele -Então, agora o que eu faço?
Ela -Não saber já é um pouco de.
Ele -Entende que cansei das palavras?
Ela -Como assim?
Ele -Tenho a palavra ternura, mas não tenho. Não sei. Pra que serve então?
Ela -Pra falar.
Ele -Não tem outro jeito?

....

Ele –Olha... O corpo sabe, a cabeça não sabe.
Ela -O que?
Ele -Quando você passava dizendo, dizendo coisas que eu não entendia... Eu dizia coisas também.
Ela –É?
Ele -Eu dizia.
Ela -Eu nunca ouvi.
Ele -Eu teria me salvado se você tivesse ouvido.
Ela –Eu nunca vou saber se teria sido minha salvação.
Ele -Digo, porque só eu sei o que eu diria.
Ela -Pode ser.
Ele –É.
.
.
.
.
Ele -A cabeça não sabe, é o corpo que sabe. Ta, era isso o que eu ia te dizer naquele sábado à noite que eu não liguei: Eu ia dizer que quando você passava dançando em frente aquela farmácia, todo dia às 7h43 da manhã você falava uma série de coisas bonitas. Eu também dizia um monte de coisa, mas do meu jeito. E a gente conversava, todo dia, um minuto, porque você chegava, esperava um minuto e o ônibus vinha, a gente tinha uma vida junto naquela época. Eu coçava a cabeça e te olhava, você virava pro outro lado, ou pro meu lado, quando a conversa estava mais interessante.
Ela- O que você ta falando? Eu nem te conhecia.
Ele -Mas eu te conhecia tão bem quanto agora.
...
...
...
Ele- Minha ternura tava naquela sua saia azul da terça-feira. Aquela de nunca mais. Nunca mais. Nunca mais manhãs de terça-feira, nem passar a segunda à noite ansioso pela manhã de terça. Isso que eu perdi pode ter qualquer nome... o que importa é que não tenho mais.

3 comentários:

Cristiano Gouveia disse...

Tudo se vai num espirro do vento, mesmo que vc segure, mesmo vc seguro, mesmo vc seguindo em frente...

Unknown disse...

meu....
o q dizer perante td isso?
nao existe palavras, somente sentimentos... uma coisa q mexe e funde a alma junto as estrelas..
cara, demais meu..
parabens...
meus parabensmesmo
demais

te amo

Anônimo disse...

Stella, vc não sabe o quanto me irrita, intimida e pressiona esse teu texto. Talvez eu possa contar pra vc, talvez não.

Ale.