Porque toda liberdade começa numa grade (27o concurso MALDITo)
O olhar pregado no fim do corredor, espera qualquer sinal de vida. Um rato, um vento. E nada.
Nada acontece nunca.
Ninguém aparece, é ele e o vazio trancados numa cela suja.
Ânsia de falar, chorar, gritar, como uma criança mal compreendida. Mas permaneceu no silêncio total.
Um pedaço de espelho no empoeirado canto esquerdo do cubo, a companhia.
-Oi... Quanto tempo eu não te vejo... Você ta diferente, mais magro. Calma, não chora... A gente vai resolver isso, calma. Tá vendo a grade? Explode ela! Tem gente te esperando lá fora. Tua mãe deve ta aflita, coitada da minha mãe! Ah, ela preferia que eu estivesse menino, bola suspensa no ar, chute e gol! E nada mais...
-É Johnny, mas o tempo passou e olha o que te aconteceu! Um animal sem rosto, falando sozinho num lugar escuro! Estou enlouquecendo!
-Calma, não grita, não chora. Se você desesperar, vai te acabar e nada! Tua mãe precisa de você. Precisa... Minha mãe precisa de paz. Eu preciso de mim mesmo, quero me libertar dessa culpa que não me pertence, dessa vida que NUNCA foi minha, dessa sujeira...
Quero de novo estar moleque suspenso no ar, como o pássaro da história que a mãe contava. Voou só uma vez, até que não soube viver ou o mundo não o quis mais.
Tenho areia nos olhos, clareia, clareia...
Olhos pregados no corredor já não esperam outra coisa que as grades se abrirem.
Um comentário:
Oi, Stella, boa sorte no concurso !!
abração
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