Manhã de quedas.
Quedaram das árvores as folhas, em nota musical contínua e menor.
Quedaram dançando, sempre em direção ao chão.
Depois o vento frio e a garoa, assim. Diagonal da tristeza.
O outono é uma tristeza que não é triste.
O vento venta saudade e perfume de quem não tá mais.
Perfume que não tem mais cabimento físico nesse espaço, o
vento trás.
Lembrança esquecida em fundo de armário e gaveta, caixinhas
escondidas, fotografias de folhas de algum lugar.
O vento insiste.
Trago do ar um vento meu e só pra mim, eu só como sou e
sempre.
Também eu vou me caindo e desprendendo.
Só então entendo as árvores.:
:
Dói um bocado.
Cada folha que decide quedar.
Também dói recolher o que ficou
(as fitinhas coloridas no lugar das fotos cheias de folhas
verdes, de um tempo chamado (sussurra) primavera)
É o começo. Outono. Estação da minha nascença, retorno
eterno, solidão de entranha.
É bom quedar-se. As palavras grandes e definitivas assustam,
e é bonita a chuva contra a luz. Eu caio com ela.
Existe alguma chance de eu existir nesse lugar e não ser
também a árvore que abandona as folhas?