23.12.08

Um frevo, um samba, um maracatu: Uma paródia...

Então a gente brinca assim: olha a gente agora vai ser espontâneo, a gente a partir de agora, um dois, três, valendo, só a partir de agora é que naturalmente tudo vai acontecer, a gente não precisa ficar junto, tá a gente fica mas é por causa das outras coisas. Que coisas? As coisas todas sempre por aí, interferindo em tudo e fazendo isso com a gente.
Como eu estava dizendo, a partir de agora, um, dois, três, já, valendo. Espontaneamente. Daí que a gente daí, vira eu e você. Assimseparado, melhor. E a gente, digo, eu e você, toma cuidado com coisas como palavras e gestos e olhares e horários, acima de tudo domingos. Domingos são perigosos. E a gente fica assim, naturalmente combinados, eu e você.
A gente fica na calçada, só atravessa na faixa, a gente usa escudo, luva, óculos escuros, colchões de água em volta do corpo, em volta de tudo. Sim, assim não fica tão bom, mas é melhor.
A gente finge que não tem nada, que finge que finge que não sabe. Pode ser?

Do outro lado, outro jogo se inicia. O bloco já tá na rua, bandeira branca, um frevo, um samba, um maracatu, agora só na quarta feira pra botar de pé a bossa de fronteiras e barricadas.

2.12.08

Pequeno ensaio sobre o pecado.

Para Alexandra.

As crianças e os velhos e os adolescentes e todos os outros que como eu, não são nenhuma das opções citadas, passam pela praça central e se divertem (ou não) olhando a bela decoração natalina: Uns pirulitos gigantes, que passam em filmes da sessão da tarde, e se você perguntar pra qualquer um do que se trata, ninguém vai saber e ainda vão te chamar de chato e crítico demais por não apenas aproveitar a beleza e o espírito natalino (?). Alguns papais Noel espalhados pelo jardim e sufocados por luzinhas de todas as cores, um que dança de forma muito desengonçada, olhando de certo ângulo, por trás da moita parece mesmo que ele está batendo punheta. Mas enfim, isso são só especulações de uma mente doentia – diriam os outros.
Neste cenário pacífico e harmonioso, eis que surge o pecado. Não ele não vem em formato de maçã. O pecado vem correndo e esbarrando nas pessoas. Posiciona-se bem no meio da passagem. O pecado é fêmea. E está acompanhado de dois machos. Começam a brincar, assim mesmo, os três. Não, vejam bem, ela não recusa nenhum dos dois. Aliás, quem inventou isso de dois?
As pessoas passam tímidas, fingindo não ver o que está a acontecer bem ali, no meio da praça harmoniosa, com as crianças achando muito engraçado, e o papai Noel batendo punheta. As mães tapam os olhos dos filhos, ou apontam pro papai Noel pra distraí-las (doce ironia). Um homem passa e faz “chiii”, com o canto esquerdo do lábio, bem discretamente, olhando para a cadela. Mas ela não se abala, e se faz de difícil ,mas depois libera pros dois. Bem ali no meio da praça. Uma alegria.
Minha vontade é subir no banco da praça harmoniosa e gritar que os cães ainda não foram catequizados, sendo assim não estão cometendo pecado algum. Então todos podem passar sem sentir vergonha, pois os cães estão ótimos sem ela.
Mas é claro que eu não digo nada.

A culpa não é pelo cachorro.

1.12.08